Setembro Amarelo: efeitos de dois anos de pandemia na saúde mental
A pandemia trouxe a necessidade do isolamento social, fator que pôde ser atendido integralmente por uma parte da população. Neste contexto, queixas relacionadas à qualidade de vida, relações intrafamiliares, problemas de aprendizagem e questões em torno da saúde mental surgiram com intensidade, como descreve a psicóloga e professora do UniFavip, Deysianne Macêdo.
“Para a surpresa de muitos, estatisticamente, o contexto da pandemia trouxe um aumento significativo de relatos a respeito de casos de ansiedade e depressão, mas não apresentou tanta mudança em termos de novos diagnósticos realizados no período. Obviamente é importante compreender que quando falamos sobre percepções da realidade, emoções e a comunicação, entramos em algumas questões delicadas. Mas é importante ressaltar que ao falar especificamente sobre transtornos mentais não quer dizer que se trata de saúde mental. Este último é um aspecto da complexidade da saúde de modo geral”, afirma a docente, que complementa:
“Podemos pensar inclusive sobre a capacidade humana de adaptação. O ser humano é capaz de se adaptar facilmente às mudanças, em comparação aos outros animais. Curiosamente, o cenário nem é sempre um caminho saudável, pois pessoas se adaptam a hábitos insalubres, como má alimentação e sedentarismo, mas também se adaptam e naturalizam relacionamentos abusivos e a própria privação de liberdade”, explica.
A professora argumenta ainda que “na pandemia o assunto “saúde mental” se tornou mais recorrente nas salas de aula, nas famílias e nas mídias. Com os lockdowns, os medos e os lutos precisaram ser vistos mais de perto, sem tantas rotas de fuga. É possível supor que as experiências de mal-estar vividas neste período, não devam ser vistas isolando o sujeito dos últimos dois anos, mas refletindo sobre sua história de forma integral. Considerando os significados construídos em suas redes de apoio, a maneira como ele se situou economicamente e culturalmente ao longo da vida, etc”, destaca Macêdo, que finaliza falando sobre o crescimento pela procura de atendimentos psicológicos.
“Além disso, cabe aqui refletir sobre os relatos de muitos profissionais da saúde mental, que apresentam notar uma crescente na busca por serviços de cuidado psicológico, porém é válido ressaltar que a crise tem esse potencial de abertura para insights sobre a realidade do sujeito, mas que nem sempre ele compreenderá o processo de cuidado como algo gradativo. As organizações subjetivas do século são imediatistas e se exprimem por imagens. Para muitos, mais vale camuflar seu sofrimento que reconhecer suas vulnerabilidades e cuidar de si junto a um profissional”, conclui.