O luto diante da morte repentina: como encarar a perda
A morte súbita traz à tona a fragilidade da existência. Neste artigo, refletimos sobre a finitude e a importância de viver com presença e consciência.
A ilusão do controle e a imprevisibilidade da vida
O que seria, afinal, uma morte repentina? Se tudo que vivemos é imprevisível, a morte, mesmo sendo a única certeza, ainda surpreende. A sociedade, por tradição, evita pensar sobre o fim. Culturalmente, ele é um tabu — e por isso, enfrentado com tanto sofrimento.
Criamos a ilusão de que a morte virá apenas após décadas de vida e após um processo gradual. Essa crença torna a morte súbita ainda mais difícil de aceitar, pois ela confronta essa narrativa com força e urgência.
Morte repentina: desafio à cultura do adiamento
Em nossa cultura, aprendemos a adiar — sonhos, palavras, afeto. Mas quando uma perda acontece de forma inesperada, todos os adiamentos pesam. As conversas que não aconteceram, os gestos não feitos, os planos não vividos. Tudo se transforma em ausência repentina.
Por isso, a morte repentina escancara a necessidade de viver com mais presença e entrega. Não há garantias para depois. O momento de amar, perdoar, falar e sentir — é agora.
A morte como condição existencial
Ao longo da história, a humanidade criou rituais para tentar separar vida e morte como se fossem opostas. Mas a morte é parte da existência. Reconhecer isso não significa resignar-se, mas compreender que a fragilidade nos torna humanos.
Quando aceitamos que a finitude faz parte de todas as fases da vida, desde a infância até a velhice, nos tornamos mais conscientes do valor do instante presente.
Freud e a aceitação da finitude
Sigmund Freud, pai da psicanálise, foi enfático ao afirmar: “Se queres viver, prepara-te para a morte”. Para ele, aceitar a finitude é fundamental para viver de maneira plena. Negar a morte é, em alguma medida, negar a vida em sua totalidade.
A psicanálise, assim como a psicologia, convida ao diálogo com o fim. Não como algo a temer, mas como parte essencial da existência.
Reflexão final: viver com entrega é aceitar a impermanência
Diante de uma morte repentina, resta o impacto, o silêncio e a necessidade de reorganizar internamente o mundo. Cada pessoa reage de uma forma, mas todas são convidadas a atravessar o luto.
Falar sobre a morte, acolher a dor e viver o presente são caminhos possíveis para tornar a vida mais significativa. Afinal, aceitar a impermanência é o primeiro passo para valorizar o que é eterno enquanto dura.
Por Deysianne Macêdo – Psicóloga e professora do UniFavip